Eu sempre achei que o dia dos namorados era uma grande treta, até porque todos os anos o passava sozinha, isto é, sem namorado. Este ano resolvi passa-lo com um grupo de amigos e não lhe vi grande piada tambem. Acho que há coisas maiores do que se passar uma noite que se quer e planeia perfeita da mesma maneira que toda a população o parece fazer. Nunca liguei ao dia dos namorados, não só por nunca o ter vivido da mesma maneira que a maioria dos amigos que conheço, mas talvez por saber que o bom funcionamento de uma relação não depende unica e exclusivamente de uma prenda dada, um jantar a dois, UM unico dia. Sempre acreditei que, por mais difíceis que sejam, as relações, sejam elas de amizade, amor, profissionais ou até de desamor, se vão construindo. Dia a dia. Devagar e com paciência, com perseverança, com muitos avanços e recuos. Sempre acreditei no poder do diálogo e da honestidade frente às dificuldades, sempre acreditei quese formos tão sinceros como queremos que os outros sejam connosco cada vez mais sinceros serão os outros também, tipo ciclo vicioso.
Não sou quem para falar de amores romântico, até porque já estou um pouco descrente, mas acho que, apesar de ser mulher de poucas, posso falar de amizades. Nunca fui muito fácil de me relacionar com os outros, nunca fui muito tolerante e creio haver sido um pouco arrogante em algumas situações, com pessoas que o não mereciam. Adiante! No entanto e, consciente dos matizes menos coloridos da minha personalidade, posso dizer que tenho bons amigos; amigos aos que posso agradecer, sem ter necessidade real disso, porque a amizade, tal como o amor, não é coisa que se agradeça. No fundo acho que não falhei assim tanto; sempre fui muito sincera e embora às vezes possa dizer que tenho uma sinceridade de cortar à faca e que dar carinhos e palavras floreadas não é o meu forte, não me considero das piores amigas para se ter. Sempre podia ser daquelas amigas que sugam toda a nossa energia e nunca estão presentes quando precisamos, ou daquelas que se riem connosco num minuto e no minuto seguinte se riem de nós nas nossas costas, ou então podia ser daquelas amigas que só se lembram de ti quando já não há mais ninguém, mas não! Eu nao sou dessas amigas, amigas dessas não interessam a ninguém! Eu sou mais daquelas amigas que te puxam pra cima quando realmente o precisas, te dão um valente puxão de orelhas quando acham que mereces, mesmo que, a teu ver, não o mereças., que te dizem as coisas tal como as veem mesmo que isso te faça ficar em casa com uma depressão num sábado à noite. Mas também sou daquelas amigas com quem podes sempre contar, que acredita no poder do diálogo e que sabe que há sempre algo mais, algo maior, algo mais forte por muito que não to diga. Se eu tivesse uma amiga muito amiga queria ter uma amiga assim, porque saberia do que ela poderia ser capaz para defender-me de quem me possa fazer mal, porque saberia que com ela poderia ser nua de segredos e máscaras porque a salvo estaria a minha integridade como pessoa com ela, porque saberia que por maior disparate que eu fizesse ou dissesse esse seria o nosso segredo e não seria revelado a mais ninguém que o pudesse esmiúçar e utilizar em contra de mim. Ah!.... Mas um dia destes, espero, hei-de ser uma amiga diferente, daquelas que tu desejas ver em mim, para que nunca te canses de mim, e hei-de guardar as criticas para mim, porque sei que, por muito que te façam crescer também te doem, hei-de calar os gritos que tentam sair para te chamar à razão, porque te ferem e te parecem injustos, hei-de ficar sentada a ver-te caminhar e hei-de torcer que caias, como a amiga que tu desejas que eu seja. Um dia destes surpreendo-te e, nesse dia, no mais intimo de ti, hás-de desejar que nunca o tivesse feito...