Com uma gargalhada bem sonora e atitude semipositiva e que se dane quem pense mal... Como eu costumo dizer: Eu sou mais eu sem ninguém!! Hei-de ser sempre esta, a mesma de sempre e pendurada na corda bamba da vida sempre fazendo macacadas e figuras tristes.... hahahah
terça-feira, junho 30, 2015
Aleluia
A paciência, um dia, termina, ou melhor, vai terminando no lento correr dos dias. Uma coisa ali, outra acolá, quando te dás conta, já não és tu, mas todos os aqueles momentos em que te reprimiste que se expressam. Mandas plantar batatas, falas alto/gritas, fazes uma trapaça. Esvazias dias/semanas/meses/anos de sentimentos e falas reprimidas num só acto, sem prévio ensaio.
Um dia, tudo termina. E o pior é que o desfecho já se adivinhava, já te tinham avisado, mas tu, teimosamente, decidiste que sabias o que fazias, que era aquilo a tua paixão, a tua missão. E no meio dessa teimosia acabas por te perder de ti, deixas de te reconhecer, deixas de agir como tu, deixas de falar como tu. É aí que o perigo maior avança sobre ti como uma nuvem negra; começas a reprimir os sentimentos, a tentar acreditar que tudo vai melhorar, quando sabes que não é bem assim, mas tentas acreditar porque se perdes esse fio de luz que te dá esperança, então acaba tudo por perder significado e força e coisas sem força não aquecem a alma, não nos fazem saltar da cama de manhã com um sorriso, não nos aconchegam nos momentos menos fáceis. E então esticas a corda, mesmo sabendo que um dia ela vai, irremediavelmente, quebrar. E sempre que puxas mais um milímetro pensas "Hoje não, por favor, hoje não! Que não quebre hoje! Hoje não", quase como uma prece, um mantra para adiar o inadiável.
Ninguém quer uma situação incómoda que paira sobre as nossas cabeças como se de um monstrengo horrível pronto a nos devorar se tratasse. É por isso que fingimos acreditar em dias melhores. E é por isso que lavamos a cara depois do choro, endireitamos as juntas dos ossos depois da luta, vestimos o nosso melhor traje e saímos à rua assobiando "hoje é o primeiro dia do resto da tua vida......". Mas um dia, inevitavelmente, quase como quem pisa merda de cão na calçada, a vida atinge-te com uma extra-dose de realidade em exclusivo, só para ti, um miminho acabadinho de sair do forno do sadismo da Vida, um chapo capaz de fazer o gigante Gulliver rodopiar nos dois pés e tu, ainda em choque (ou nem tanto, pois no fundo, já tinhas visto onde ia terminar essa viela), fechas a boca, recolhes o queixo, recompões o traje e ages sobre o momento e sobre o impulso desse momento. Vociferas, carregas na arma e disparas argumentos (alguns sensatos, outros nem tanto) em todas as direcções, arremessas com as culpas para quem te der na telha, porque no fundo sabes que 50% dessa culpa também é tua e odeias-te por isso, mas atira-la na mesma porque "50% dessa culpa é tua e fazes com ela aquilo que te apetecer".
Um dia, decides perder a cabeça (sim, "decides". Todos os momentos se baseiam em deliberações e decisões, algumas imediatas outras nem tanto, mas tudo se resume a decisões, porque no fundo escolher algo é decidir-se por essa via, esse caminho.). E gritas. E abanas os braços. Agitas a cabeça em fúria. Franzes o sobrolho. Perdes a compostura. Sentes todos os músculos a puxar em todas as direcções, os joelhos não dobram, as mãos não abrem, a garganta expande a voz e, num momento, quase previamente deliberado, dizes tudo o que guardaste, o que já tinhas ensaiado e o que saiu em rascunho, o que tinhas pensado em nunca revelar e até o que nunca quiseste usar para ganhar de qualquer forma um segundo dessa momentânea explosão. E é o céu na terra!.... Naquela pequena fracção de tempo se revela o Aleluia, a glória divina em todo o seu esplendor. Já não fica nada dentro que importe salientar. Sai o peso de dentro num vômito de raiva e o que fica nesse espaço é o nada. O alivio.
Claro, depois vem, quase sempre o arrependimento. O pensar que se poderia ter dito de forma diferente, menos fria, menos cruel. Mas no fundo sabes que esta foi a melhor maneira e, mesmo que a oportunidade se replicasse num Universo paralelo, não farias nem dirias de forma diferente.
Um dia, a paciência, já cansada de se ir esgotando proporciona-te um belo momento de explosão....
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