Normalmente

Que posso eu dizer? Desde que deixei a casa tudo tem ido de maneira diferente aquela que eu tinha planificado., mas não me queixo...
Na realidade não me posso queixar. A pouco e pouco as coisas se vão arranjando e os meus dias ganharam a velha normalidade que há anos lhes faltava... Não posso dizer que me sinto triste, na verdade não me posso queixar de nada. Tenho um trabalho que paga as contas, tenho uns colegas deliciosamente divertidos, os novos amigos que fiz no entretanto quase são como os de sempre e me fazem sentir bem, protegida e bem. Arranjei um apartamento bem situado, no centro, num condomínio sossegado com uma varanda que percorre toda a extensão do piso e que me agrada muitíssimo. E não, não me queixo.
Tenho uma vida normal, simples, com novos amigos e até estou a pensar em comprar-me um peixinho que me faça companhia e não suje tanto como um gato, nem faça tanto ruído como um cão.... Na verdade não me posso queixar. Finalmente consegui atar as pontas soltas... Comprei um novo carro, mais pequeno que o Astra, não que me faca falta, apenas não sabia onde gastar o dinheiro e não ia comprar nem mais roupa nem mais uma mota, assim que um comercial não me pareceu má ideia....
Na verdade está tudo muito bem e a vida parece que começa a mostrar o seu sorriso para mim... Mas sinto uma espécie de vazio.... Não sei se será por não estar acostumada a ter uma vida normal, com horários normais, um trabalho normal, com colegas normais, uma casa normal sem nada de anormal a não ser o desabito de tanta normalidade....
Oiço as canções da nossa banda sonora, da minha colecção privada, dos melhores momentos de mim para mim comigo mesma ante mim, oiço e algumas me lembram de todos estes anos e de tudo o que fizemos juntos.... Não percebo em que altura do campeonato te fizeram aquilo que hoje és, não percebo como o ser doce que conheci numa noite comum num bar cutre pode haver-se transformado na pessoa sem escrúpulos que hoje és... O que te fizeram? Terei tido culpa disso também? Poderia jurar que julguei que nunca nada disso mudaria... Abri o meu coração e a minha casa, o meu ser e a minha alma e não me arrependo de tudo o que fizemos juntos... É mais, lamento não ter podido fazer mais, lamento não ter ido contigo quando te decidiste a pegar na mochila e partir pra aventura.. Será que sabes que hoje é domingo?...
Menos mal que não te perdeste por completo, pelo menos posso saborear as memórias.... Amo ou amei muito o ser que conheci, doi que não sejas mais quem eras, eu também mudei, eu sei, e também de mim tenho saudades mas hoje apenas te quero agradecer por teres sido tão cruel, acho que me vali dessa tua crueldade para crescer independente e esquecer que te tive tão dentro de mim....
Onde quer que estejas, se algum dia pensas em mim, espero que te doam as entranhas pelos teus actos... Serei sempre maior que a vontade de quem mal me quer...