Não. Não é egoísmo teres aquilo que mais desejaste e pelo que mais lutaste nestes últimos tempos e mesmo assim desejar dormir abraçada a alguém que te dê o carinho de que careces. Não me parece nada egoísta que tu, tendo passado pelas privações e provações pelas quais passaste sintas necessidade de afecto.
És uma lutadora, mas isso não faz de ti insensível, és uma mulher extremamente doce, do tipo manteiga derretida, mas isso não faz de ti o alvo perfeito para que todos se armem em parvos e reúnam forças para te infernizar a vida. És uma mulher que não soube fazer tudo o que os outros queriam, contrariaste o mundo e, mesmo sabendo um pouco do que te esperava lutaste e remaste até a outra margem. Diz-me lá, quero saber, de que lado a vida é mais bela? Não, espera. Não respondas, já sei a resposta, soube-a mesmo antes de saber a pergunta. Soube-a há uns anos, e confirmei-a quando desatei a chorar convulsivamente sentada na beira da tua cama.
Sei que o bem que tens é o mais desejado, o mais importante e talvez por isso mesmo o mais difícil, mas também sei que farias tudo de novo, com a mesma convicção de que estavas no caminho certo. E adivinha, minha linda. Estavas mesmo no caminho certo.
Hoje olho para ti e vejo uma mulher, uma grande mulher, decidida, lutadora, cheia de afecto para dar, que pode encher a boca a gabar-se porque tem motivos para isso. E por tudo isto és eleita a minha segunda heroína, a primeira já sabes, é a minha mamã, mas o segundo lugar no ranking to dedico exclusivamente a ti, por teres vencido todas as batalhas sem nunca deixar que isso te afectasse a essência, aquela essência que numa noite qualquer de um Novembro qualquer eu conheci e pela qual me enamorei.
Eles nada sabem, não te merecem e se por mim fosse iria até aí raptar-te para que pudesses tirar pelo menos uma folga...