Sentada, mais uma vez sentada... Sentada no rés-do-chão duma cama-beliche de um minúsculo quarto de um apartamento de um 3º piso algures perdido no meio duma cidade grande... Sentada me leio... Releio e volto a esquadrinhar as linhas que a tantos dediquei... E hoje te dedico…
Tinha-me decidido a esquecer a dor, fechando o coração para que ela não pudesse voltar a entrar e destruir tudo por dentro de mim... Mas aqui, perdida nos lençóis de uma outra cama deste mesmo apartamento de 3º piso, iludida pelo olhar terno e voz macia de uma italiana linda de morrer, ou já cansada de tanto resistir à paixão e a todas as suas graduações de temperaturas, larguei o escudo e tirei a farda de combatente, baixei as armas e defesas e sucumbi aos beijos e às noites de histórias encantadas de que tantas vezes ouvi falar e que tantas outras quis viver...
Deixei-me envolver pelo teu abraço, minha querida... Deixei-me seduzir por tudo em ti... És uma autêntica jóia... A princípio tentava evitar encarar a tua mirada porque me sabia fraca o suficiente para cair nas malhas da tua rede... Até ao dia em que te deixei claro que quando chegasses a casa um pouco passada e sentisses a necessidade de falar, me podias bater à porta do quarto. E tu, como uma boa menina, não perdeste o tempo e justo na noite seguinte me foste bater à porta... Tinha praticamente acabado de chegar e também estava passada... Tinha pensado bater eu à tua, mas achei melhor que não, até porque nas minhas mocas eu gosto de silêncio e não falo com ninguém, apenas me fecho dentro do quarto à espera que venha o "bajon" e depois o sono...
Mas tu não, tu te tornas mais sociável do que és, muito mais simpática e com um sorriso contagiante. Tu cantas e danças como uma sereia encantada e toda tu transmites luz como um anjo... Talvez por isso tenha passado a bater-te à porta com alguma frequência, porque todas as noites eram noites loucas lá no trabalho e tu tinhas sempre um bom paleio e uma cerveja fresca para me acalmar as ânsias... e às vezes até me convidavas... Como nessa noite... Abri a porta e levei de golpe com o teu olhar wide wide open e iluminado e disseste: Ho una cosa da darvi, vuoi? Disse-te que sim, mas devo-te confessar que não estava muito segura se devia continuar, mas fui contigo pro teu quarto e estivemos de conversa e de festa até ser de manhã, quando o sol já ia alto...
Passaram-se algumas noites e a ligação entre nos estava cada vez mais forte quando tentaste arrancar dos meus lábios um beijo, aquele que tanto te queria dar, mas por medo de me apaixonar, por saber que me iria apaixonar, me impedia e privada de te dar. Olhei-te nos olhos e, analisando o tom da tua voz, envoltas num abraço que me aqueceu o corpo, roçamos os lábios e deixamos as nossas línguas se tocar numa dança que as enrolou uma à outra num beijo profundo e suspirado, como aqueles que se dão a que se ama, quando se ama.
Fomos visitando o quarto uma da outra alternadamente, durante algum tempo até uma manhã ouvir a voz de outra pessoa no teu quarto...Nessa manhã senti que, mais uma vez, me tinha enganado, que me tinha deixado iludir pelos teus lindos olhos e a tua pele de seda, cada vez mais profundamente e cada vez mais cegamente e cada vez mais devotamente em cada noite que fazíamos amor...Tinhas-me dito que não te agradava apenas o sexo, que não fazias sexo, mas sim amor... Tinhas-me dito que também tu tinhas fechado o teu coração ao amor durante algum tempo por causa de uma gajo qualquer que te tirou a fé nele, mas que depois tinhas conhecido uma miúda que te fez esquecer esses medos e te fez compreender que depois de cair a única solução e levantar-se. E, recordando todas estas palavras, sentia que tinha caído numa lengalenga barata. Tinha caído na tua história e nessa manhã senti-me suja, estúpida e destruída por ti e por mim, principalmente por mim, por me ter permitido ouvir a voz do coração que me pedia que me deixasse apaixonar por ti e senti-me com tanta raiva!...
Mas para tudo há uma explicação e se ela é verdadeira eu creio que se sente, não é assim? No meio destes atropelos, por falta de comunicação nos ferimos uma á outra de verdade. Tu com uma colombiana qualquer no mesmo quarto que tantas vezes foi o nosso, onde as paredes são testemunhas do nosso amor, e eu com o teu amigo, num qualquer quarto de um hotel enquanto trabalhavas, por vingança e despeito exactamente na noite desse mesmo dia. Mas nenhuma de nos gostou do que fez e, dias depois, quando decidiste bater tu à minha porta, porque já há mais de uma semana que eu te virava a cara e ignorava explicitamente, perguntaste-me que tinha passado com o teu amigo e me disseste que, tal como eu, tinhas ciúmes... Era de manhã e passamos o dia todo agarradas uma a outra dormindo na minha cama, como uma primeira vez...
Hoje passei por ti, estavas linda como sempre, trabalhando e não te quis incomodar. Sei que quando terminares tudo o que tens a fazer virás pra casa e bater-me-ás à porta do quarto para me pedir que vá pra tua cama...E por isso respiro fundo e a gosto por saber que tudo o que aqui te escrevo faz parte de nós e que por nos termos ferido e, posteriormente, nos termos curado uma à outra ficará gravado na tua mente e no teu coração quando vás para o México...
Sei que me ira custar passar noites e dias sem ti, mas sei que, de vez em quando, te irás lembrar de mim com o mesmo carinho que eu te dedico. Dizes que vais, mas voltas, eu prefiro não pensar nisso, sei que és um pouco como eu e que, no último minuto antes de embarcar no avião de volta, podes decidir ficar. Por isso se voltares será uma euforia para a minha alma voltar a ter-te por perto, mesmo que os nossos corações já não se amem da mesma maneira. E, bem… Se não voltares, em cada pensamento que te dedique, sentirás um beijo dos meus e eu lembrar-me-ei durante muito tempo com um sorriso na cara a noite em que me disseste: Mi piace fare l'amore con te!
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